quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011



Não quero. Ele é chato, mala. Sai daqui, garoto. Daqui a pouco ele vai precisar de mim ou eu vou precisar dele. E seremos mais um casal. E se eu quiser ficar desfacelada num canto e ele sofrer com isso? E me ameaçar, como todos*, dizendo que vai deixar de me querer só porque sou assim, tão incapaz de querer? Ele vai descobrir. Eu estou morta. Ele vai descobrir. Eu morri há muitos anos quando era para eu ter morrido. Por isso não acendo a luz, minhas plantas são um pouco secas e murchas, minha casa é rachada, bagunçada, suja, mal assombrada. Não quero planejar*, sair da cidade, ter um filho, conhecer seu melhor amigo, ver suas fotos, largar esse cigarro maldito, cuidar dos meus dentes, colocar perfume, fazer um exame de saúde. Não quero. Porque eu estou morta.(...)
Ele é só mais um tentando me salvar.
Ele pergunta o que eu tenho. E então começa o festival de sempre. Tenta me alegrar e eu ignoro. Tenta me emocionar e eu ignoro. Se fecha e eu ignoro. Me enche de beijos e eu reclamo. Me deixa, me deixa. Ele desiste e desaba no meu sofá. Ele não sabe o que fazer. É o desfecho grandioso da crueldade do meu personagem. O momento em que deixo claro que a pessoa quase* conseguiu. Você tinha tudo pra me dobrar. Mas você não conseguiu. Balanço a medalha na frente dele pra depois dizer que nunca ninguém chegou tão perto de usá-la. E então, lanço o caralho da medalha pra puta que pariu. Ouvimos o som dela se espatifando longe e para sempre. O garoto vai embora se achando um lixo. ;~

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